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Kim Dickens faz uma análise de seus papéis mais memoráveis

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Ela atualmente é a protagonista na série que quebrou recordes com a maior estreia da história da televisão a cabo, mas antes de Kim Dickens começar a lutar com zumbis em Fear the Walking Dead ela teve como hábito aparecer em algumas das melhores séries de TV da última década.

O Entertainment Weekly conversou com Dickens para saber suas impressões e lembranças de outros papéis notáveis na tela (“Deadwood”, “Lost”, “Friday Night Lights”, “Treme”, “Sons of Anarchy”, “House of Cards”) bem como sua nova performance nas telonas em “Gone Girl” (Garota Exemplar). Confira:

DEADWOOD

“Não havia improviso. Não cortávamos palavras. Era muito específico para o som, a métrica, e obviamente para o significado. Era preciso aplicar alguns truques para memorizar tudo às vezes.”

Dickens teve sua grande estreia como madame Joanie Stubbs no wester de David Milch na HBO, um papel e uma série que ela ainda guarda com carinho no coração. Abaixo vemos o que ela tinha a dizer sobre tentar decifrar os roteiros de Milch.

O diálogo era muito denso, e eu acredito que seja medido. Ao menos essa foi minha impressão do que eu me lembro de ouvir. Mas não tínhamos roteiros. As páginas chegavam diariamente, e não tínhamos muito tempo com essa linguagem, eu acho de verdade que levavam algumas passagens somente lendo o roteiro para traduzi-lo para si de um modo como se faria com Shakespeare, e mais algumas para, de fato, memoriza-lo, porque não é exatamente a forma como falamos hoje, com certeza.

Então, memorizar tudo era muito desafiador também, e foi um material que reproduzíamos ao pé da letra. Não havia um refrão. Não havia improviso. Não havia corte de palavras. Era muito específico com relação ao som, à métrica, e obviamente ao significado. Precisávamos de alguns truques para memorizar tudo às vezes.

Mas essa série realmente tem um lugar especial no meu coração. Foi uma experiência mágica naquele período para mim e com David Milch. Eu tinha uma sensação de licença poética, e não tínhamos roteiros ou notas de outras pessoas. Recebíamos as páginas diariamente, e filmávamos em seguida, e David ficava conosco.

Estávamos em Melody Ranch, e David ia até lá e meio que nos guiava pelo processo. Quando estávamos preparando uma nova cena, ele chegava e falava conosco, com o elenco ali, o diretor, a equipe. Ficávamos muito atentos. Ele conta histórias muito bem e fala muito bem, e ele nos dava a sensação exata do que estávamos fazendo para atuar, ou a essência da cena, ou o que emoções deveríamos capturar, e aí o diretor executava as coisas.

Foi uma experiência linda e mágica. Se você dá uma passada pela série na televisão ou algo assim, é tão do momento. A minuta entre essas pessoas, esses personagens, é tão rico. Se você assiste, há muito mais para entender, sabe? Há sempre coisas para absorver.

LOST

“Poder trabalhar com Sawyer entre todas as pessoas – tipo, não tem como ficar melhor.”

Dickens fez o papel de Cassidy – o alvo de Sawyer que virou uma estagiária de fachada que virou mãe de sua filha no drama da ABC.

Essa série foi incrível, e só pelo fato de poder aparecer vez ou outra foi maravilhoso. E nunca soube o que iria acontecer com Cassidy, e era sempre algo muito legal. E poder trabalhar com Sawyer dentre todos – tipo, não tem como ficar melhor. E trabalhar com Kate também, eu adoro como eu passei pela história, e aí tive uma filha, Clementine. Foi uma experiência incrível. Ele meio que somente me faziam inteirar das coisas, fazer você se encaixar, filmávamos o dia todo e aí íamos embora. Foi uma série muito legal de fazer parte, posso dizer.

Josh Holloway foi muito bom na série. Ele foi demais. Eu adoro a primeira cena. Achei que foi uma história muito boa, e eu adoro de verdade a cena quando o visito na prisão. Tive aquela cena onde mostro a filha para ele. Ele é um ator tremendo.

FRIDAY NIGHT LIGHTS

“Os roteiros eram lindos. Seu coração ficava sempre na boca ao final de cada episódio.”

Se os roteiros de Deadwood eram lidos ao pé da letra, então o movido-a-improviso Friday Night Lights era o oposto para Dickens, que fez o papel da mãe ausente de Matt Saracen, Shelby.

Foi uma experiência fantástica. Os roteiros eram lindos. O coração ficava na boca ao final de cada episódio. Não sei como eles tinham esse poder, mas eles tinham. Eles eram tão lindos e tão emotivos, e então a gente acabava improvisando com os roteiros.

Eles filmaram tudo de um jeito bem particular, que normalmente era com três câmeras de mão, e aí nós meio que improvisávamos as cenas, e as câmeras pegavam tudo, e isso dava o tom de algo espiado ou de documentário, e dava pra filmar muita coisa em um só dia. Acho que podíamos filmar umas 10 páginas em um dia e terminar cedo.

Adorei trabalhar com Zach Gilford, e Louanne Stephens que fez o papel de sua avó – atriz incrível de Dallas. Uma pessoa muito bonita e muito engraçada, mas ela é uma atriz fenomenal. Eles tinham um elenco incrível.

SONS OF ANARCHY

“Nada mal para um dia de trabalho quando se trabalha com Charlie Hunnam.”

Dickens fez o papel de uma madame novamente no drama de motociclistas da FX, e uma que ficou íntima com o Jax de Charlie Hunnam antes de encontrar uma morte prematura.

Eu fiz o teste para Collete Jane, a madame, e eles ficaram tipo, claro, não sei se vai dar certo, e aí eu recebi um email de Kurt Sutter porque ele era um fã de Deadwood. Obviamente, acho que ele contratou várias pessoas, vários de nós. Havia muita gente de Deadwood lá. Ele me contratou para ser uma madame moderna. Por isso eu fui um pouco contratada pelo meu jeito. [Risos] Não, mas foi muito divertido. Tipo, aqueles caras, eles davam, sabe, uns abraços de urso. Eles eram muito gentis. Era um ambiente muito caloroso e divertido. Todos os caras andavam mesmo com suas motocicletas enormes até o trabalho todos os dias, e era muito legal. Nada mal para um dia de trabalho quando se trabalha com Charlie Hunnam.

GONE GIRL

“Eu esperava que o papel fosse para uma atriz mais famosa, mas aquele foi o dia da minha vida em que mais me senti feliz.”

A atriz roubou cenas de Ben Affleck como a detetive cética Rhonda Boney na adaptação de David Fincher para o romance da ex-escritora da EW Gillian Flynn.

Quando consegui o papel, eu fiquei, tipo, eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. As chances de se conseguir um papel como aquele em um filme de David Fincher, não são muito grandes. Há muita competição lá fora. Eu esperava que o papel fosse para uma atriz mais famosa, mas aquele foi o dia da minha vida em que me senti mais feliz.

E na época eu estava trabalhando em Nova Iorque quando o teste apareceu, e consegui uma folga em uma segunda-feira, e meu agente disse, “Olha, consegui um teste pra você, e são 18 páginas.” E eu fiquei tipo, é, não vai ter jeito de preparar 18 páginas na segunda-feira, porque não vai ter como fazer. Eu estou dando meu sangue por aqui, e é David Fincher, e eu fiquei, tipo, bem, nem vou conseguir. Por que então eu estou indo?

E aí eu li as páginas. Eu não tinha um roteiro, nem nada, e eu não havia lido Gone Girl, então eu li as 18 páginas, e pensei, é, eu preciso tentar. Gillian Flynn escreveu o roteiro de cena, e ela deu uma aumentada na personagem de Boney um pouco além do romance original, e foi um papel incrível de fazer. Nem tenho palavras para expressar.

Foi uma experiência que mudou minha vida esse trabalho com Fincher, e trabalhar com Ben, Rosamund Pike, Carrie Coon, Patrick Fugit, Casey Wilson, Missi Pyle – o grupo todo mostrou trabalhos fenomenais, e eles eram pessoas ótimas para se trabalhar. Fincher exige que você chegue e de o seu melhor todos os dias o dia todo, e você se sente inspirado a fazer isso, e se inspira a ser melhor. Foi uma experiência muito, muito divertida, uma experiência muito produtiva, e eu adoro a personagem. Gostaria de poder fazê-la novamente.

TREME

“Eu me lembro de nenhum dos habitantes locais estar interessado em que nós contássemos a história deles. Eles simplesmente odiaram a ideia. Tipo, ninguém jamais entendeu Nova Orleans.”

Dickens apresentou mais uma performance excelente como uma chef lutando com as finanças no ode de David Simons para uma Nova Orleans pós-Katrina.

Nova Orleans é um cidade linda. Você se apaixona por ela, e você pode virar a esquina, e ela vai partir seu coração. Tipo, é uma cidade muito especial e única, e nós fomos até lá relativamente logo após Katrina, e iríamos mostrar personagens inspirados em pessoas reais de lá e mostrando suas experiências de se levantarem em poucos meses após Katrina.

Lembro-me de estar lá para filmar o piloto, e filmamos durante o Mardi Gras e eles nos colocaram no Hotel Monteleone no Quarteirão Francês durante o Mardi Gras. Primeiramente, nunca conseguimos dormir. O barulho era muito alto. Mas eu me lembro, nenhum dos habitantes locais estava interessado em que contássemos suas histórias. Eles odiaram a ideia. Tipo, ninguém jamais entendeu Nova Orleans.

Eles souberam que estávamos chegando, eles não estavam animados com isso, e eles contam como as coisas estão por lá. Então filmamos o piloto, e fomos avançando, aí estávamos filmando a primeira temporada quando saiu o primeiro episódio na televisão, e você sabe, nem todos têm HBO. Não é assim lá. Por isso eles todos foram para alguns bares onde havia anúncios de que a série seria transmitida, o que eu acho que é até ilegal, mas as pessoas começaram a assistir enquanto estávamos filmando, e foi meio assustador porque sabíamos que eles não nos queriam lá, pra começo de conversa. E aí eles viram a série, e então eles meio que torceram por nós. Fomos meio que Os Beatles por um momento porque acertamos na visão deles, e, você sabe, graças a Deus, mas foi uma experiência interessante.

Steve Zahn e eu conversamos muito sobre isso, porque foi uma experiência única como nunca havíamos visto porque foi meio que arte ao vivo porque fazíamos alguns personagens que foram inspirados em pessoas reais de lá, e estávamos na cidade deles quase que em tempo real, e por isso estávamos vivendo lá e fazendo o papel deles. E aí estávamos em estreias de galerias de arte, ou em restaurantes, ou somente andando pelas ruas, e eles gritavam conosco tentando brigar com o Steve, sabe, porque o personagem dele era o personagem dele. Mas foi uma experiência única, e eu me orgulho disso. Fico feliz por eles terem nos aceitado.

HOUSE OF CARDS

“Na minha primeira vez eu tive a oportunidade de conhecer Robin, ela estava dirigindo Paul Sparks e eu em uma cena de sexo. Por isso essa foi uma maneira interessante de conhecer alguém que você idolatra.”

Dickens fez um papel recorrente na terceira temporada do drama político do Netflix como uma jornalista determinada a investigar o presidente Frank Underwood.

Por sorte essa era a minha série favorita na época quando eu consegui o papel – esse e em Mad Men. Por isso eu disse sim imediatamente. Beau Willimon, o criador e roteirista da versão americana, eu acho também que ele é fã de Deadwood, porque ele também usou alguns de nós com Molly Parker e Gerald McRaney, mas você sabe, eles me pediram para vir e participar, e eu disse sim na hora.

E aí eu fiquei aterrorizada. Eu fiquei tipo, espera aí, é minha série favorita. Frank Underwood! Não posso! Eu estava muito nervosa com tudo. Era intimidador. Os personagens deles são tão reais para mim, e é claro, eu cheguei lá e eles foram adoráveis, e Robin Wright dirigiu muitos em que eu participei, e foi muito divertido.

Na primeira vez que conheci Robin, ela estava dirigindo Paul Sparks e eu em uma cena de sexo. Essa foi uma maneira interessante de conhecer alguém que você idolatra, mas foi muito divertido. Ela é uma diretora maravilhosa. Kevin Spacey é adorável. Ele obviamente foi maravilhoso no papel, e foi bom ser parte da imprensa também porque ele meio que entretém todos entre as filmagens.

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Fonte: Entertainment Weekly
Tradução: @Felipe Tolentino / Staff Fear the Walking Dead Brasil

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