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Review Fear the Walking Dead S05E14 – Today and Tomorrow: Quando criticar se torna redundante
“Today and Tomorrow” foi o 14º episódio da 5ª temporada de Fear the Walking Dead. Venha conferir a nossa crítica ao episódio e comente conosco.
Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do décimo quarto episódio, S05E14 – “Today and Tomorrow”, da quinta temporada de Fear the Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!
Em anos escrevendo críticas aos episódios de The Walking Dead e de Fear the Walking Dead acabei descobrindo macetes para não soar repetitivo, até quando as tramas exibiam duas ou três semanas ruins. Entretanto, provavelmente nem o mais experiente crítico profissional conseguiria não se tornar redundante e repetitivo no que concerne a avaliação dessa quinta temporada de Fear.
Today and Tomorrow traz Morgan de volta ao foco depois de duas semanas sem dar as caras. Se isso não fosse suficiente, vemos que algumas incoerências continuam a ser repetidas na trama filosófica do personagem. Isso porque ele a todo o momento reforça que ajudar as pessoas agora é o centro de sua existência. Inclusive, um dos momentos mais incômodos dessa semana foi o momento em que Althea tentava buscar uma solução para que pudessem ajudar os amigos dos poços de petróleo e Morgan afirmou que deixar as caixas também era importante.
Mas é engraçado que a filosofia dele se embasa tão somente no entorno das caixas de suprimentos, pois, quando viram Tom desesperado por gasolina, afirmando necessitar fugir, Morgan e Althea foram irredutíveis em exigir que ele devolvesse o combustível. Ou seja, uma pessoa que aparentemente necessitava de ajuda e que necessitava de algo que eles tinham, foi colocada em escanteio em prol das caixas. Isso significa somente uma coisa: a verdade é que a filosofia de Morgan é falha. Ele constrói um ideal de ajuda ao próximo, mas o ideal para ele é tão superior aos sobreviventes que nada pode minimizá-lo. A ajuda só é válida quando vem das caixas.
De repente, voltamos a ver o grupo de Virginia e descobrimos a ligação de Tom com a comunidade dela. Althea então liga a história de que Virginia quer construir um futuro com a de Isabelle e mascara uma tentativa de reencontrá-la dizendo que irá entrar no local para encontrar a irmã de Tom. Esse, que até então era um desconhecido, é deixado com o carro, os suprimentos e a gasolina para que Althea e Morgan invadam a comunidade. Sim, eles quase agrediram o homem pela gasolina e agora deixam tudo nas mãos dele, sem saber se de fato ele fala a verdade.
Seguindo em frente, a dupla consegue adentrar os portões do local e pouca coisa relevante acontece, além de Althea e Morgan resolverem tomar banho de piscina com um zumbi e acabarem sendo pegos pelos guardas da – aparentemente – nova antagonista.
Nesse momento eu pensei que teríamos mais explicações sobre os planos maléficos de Virginia e no tudo o que ela é capaz de fazer com os sobreviventes. Entretanto, continuamos a ter mais do mesmo, mesmo havendo apenas mais dois episódios depois desse para encerrarmos o quinto ano.
Aliás, vejo uma tentativa de criar uma vilã carismática, a altura de Negan em The Walking Dead, que beira a loucura, usando de ironia para se expressar. Entretanto, o roteiro é tão forçoso nessa tentativa que acaba ficando até mesmo desconfortável a diferença de tons entre a personagem e o restante da história. É como uma carta fora do baralho.
Sem muitas ameças, Virginia solta os dois heróis e os deixa ir embora. Óbvio que essa não é a última vez que a veremos, mas fica claro que para uma tentativa de salvar a quinta temporada ao menos em sua reta final, o melhor a ter sido feito aqui era Virginia liberar Luciana e deixar que todos fossem embora em paz, nunca mais tornando a aparecer na trama e nem sendo citada. Me dá medo pensar que estão planejando levar essa trama fraca, solúvel e amargada para a sexta temporada. Bom seria que se encerrasse e fosse esquecida.
Noutro lado da história, tivemos até uma boa métrica com Daniel e Grace. Grace é uma personagem que – infelizmente – não parece que terá muita oportunidade de crescer, tendo como propósito único o desenvolvimento de Morgan. Mas, ela é carismática e tem força para dar muito mais do que está entregando. A forma como ela funciona com Daniel aqui é impressionante, leve e degustável.
O único porém aqui é aquilo que já tínhamos previsto no episódio do shopping center, em que Grace está prestes a usar máquinas de raio-x para descobrir se está ou não com câncer derivado da radioatividade que se expôs. Lá, eu critiquei o fato da desistência da personagem em descobrir a doença, pois essa seria a primeira vez que teríamos contato e poderíamos acompanhar um enredo desses: um personagem que além do apocalipse zumbi precisa lidar com o avanço de uma doença incurável e decidir se vale a pena continuar a lutar ou não. Mas o que os roteiristas escolheram fazer? O caminho mais curto e fácil, deixando a personagem na história e de repente, em certa altura, provavelmente decidirão fazê-la ter um desmaio e morrer, sem aprofundamento, sem dramaticidade e sem muito impacto.
Depois de anos tendo diversas oportunidades de repensar sua vida e de aprender a aceitar a morte da sua esposa e filho, Morgan decide se livrar do passado num clique único. Veja, ele poderia ter tido esse clique em todo aquele episódio em que Grace o fez feliz novamente e trouxe a ele leveza e libertação. Mas, os roteiristas sem motivo aparente resolveram fazer com que as fitas de Althea resolvessem todos os seus problemas.
O cômico é que depois de todo esse tempo, quando ele resolve dar um passo adiante, ele descobre que aparentemente é tarde demais. Grace está morrendo. Os roteiristas terão que ter muita força de vontade e capacidade explanativa para explicar o como a decisão tomada após assistir a fita de Althea fará de Morgan um homem firme e decidido em continuar avançando mesmo que Grace morra. Ou, infelizmente, veremos o personagem voltando a estaca zero pela milésima vez. Acompanharemos ele surtando, perdendo o juízo, tentando reconquistá-lo e se entupindo de filosofias morais para tentar se estabilizar enquanto não se desagarra do passado.
Outro ponto repetitivo, mas que precisarei citar é o problema de termos três comunidades gigantescas com os mesmos ideais no universo compartilhado que o AMC quer desenvolver para a marca The Walking Dead. Temos na série principal Georgie que levou Maggie a aplicar o livro “A Chave” – que é o objeto símbolo de Virginia – e que diz ter uma grande comunidade que desenvolve outras para o futuro da humanidade. Além disso, temos os helicópteros que ligam as duas séries e que, conforme Isabelle, também derivam de um local que prega a construção de um novo mundo para a próxima geração de humanos. E, agora, Virginia com uma conversa basicamente copiada das outras duas. Não é arriscado demais desenvolver três tramas idênticas e paralelas num universo compartilhado que flui pro mesmo ponto central? Não é complicado lidar com histórias idênticas sem se tornar repetitivas? Ou é uma mentira de Virginia e no fim descobriremos que ela, Isabelle e Georgie estão unidas, muito embora o modus operandi de cada uma delas seja completamente diferente uma das outras.
Indo mais além, o canal AMC não está arriscando demais em começar a partilhar a ligação do universo a partir de Fear the Walking Dead justamente em um ano que a história da série não é concisa, convincente e orgânica? Entendo pouco do assunto, mas ao meu ver para se criar um universo compartilhado o principal investimento precisa ser no seu ponto de partida, o local que começa a expressar as ligações, o fundamento. Se a fundamentação não é coerente e forte o suficiente, a “casa” que é construída sobre ela corre o risco de desabar.
Enfim, como disse, não há muito mais do que se falar de Fear the Walking Dead. Ainda temos dois episódios para essa temporada, onde os leitores provavelmente voltarão aqui e lerão uma crítica semelhante a essa para cada um deles. Não porque eu queira criticar, mas porque é impossível enxergar algo bom no meio de toda a sujeira que fizeram nessa temporada.
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