Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do terceiro episódio, S05E03 – “Humbug’s Gulch”, da quinta temporada de Fear the Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!

Eu sei que semana passada as reclamações foram incessantes no que diz respeito ao roteiro construído para o segundo episódio. Nessa terceira semana, Fear the Walking Dead parece ter conseguido respirar novamente, embora em um grande imbróglio de incoerências.

Num dos lados positivos de Humbug’s Gulch nós vimos o quão funcionais John e June são em cena.  O casal cada vez mais se demonstra um elo perfeito dentro da trama, não se tornando massante nos pontos românticos e nem gerando total desconexão quando agem individualmente.

Confesso que foi bem confuso para mim ver um cenário do século XIX em cena nos dias atuais. Eu quase senti como se John e June tivessem chegado a um parque temático (no maior estilo de Westworld), mas o clima de faroeste foi o que mais funcionou na trama da terceira semana da quinta temporada.

O encontro com Dwight foi bastante animador e gostei da forma como os três funcionaram. Usar a história de June e o como ela tentou fugir do amor, por achar que não era merecedora, para salvar a vida do ex-Salvador fez parecer que a trama da quinta temporada já era planejada desde o ano anterior, quando June foi inserida. Os aspectos subjetivos dos personagens se somaram e construíram uma boa encenação de Bang-Bang.

As cenas de ação nesse enquadramento foram bastante equilibradas, e a forma como June e John sabem sobreviver juntos, se revezando em ataque e defesa, mais uma vez prova o quão encantador esse casal pode ser. Tudo poderia ser bastante perfeito se não tivéssemos o tiro no machado que se bipartiu e matou dois walkers – palavra desconhecida pelos personagens de Fear, apresentada por Dwight. Mas relevo a cena, pois é típica de filmes de faroeste.

Peso que, novamente, o roteiro quis indicar que June não terá vida longa nessa quinta temporada. O discurso dela para Dwight e sua conversa com John findada com um acalorado beijo parecem indicar que o casal está passando por uma fase de despedida. Uma pena, pois é um dos poucos núcleos que tem funcionado bem em Fear, que sofre pela perda de bons personagens prematuramente desde sua primeira temporada.

Será que June irá se despedir da série?

Do outro lado, temos Alicia e Luciana trabalhando juntas buscando por Althea, mas tendo mudanças de planos quando ouvem sinais de rádio de uma conversa entre Dylan e Anne. A partir daí, ambas resolvem se precipitar em ajudar os jovens que insistem em não querer auxílio deles.

Morgan parece temer quanto ao equilíbrio da jovem Clark e vai atrás dela e de Luciana, para garantir que Alicia não perderá a cabeça na busca pelas crianças. Os três não resolvem muitas coisas juntos, e no máximo podemos ver que o medo de Morgan está ligado ao fato de que ele desconfia que Alicia ainda não superou as perdas que teve anteriormente. De fato, a filha de Madison acaba confessando que os fantasmas da mãe e do irmão não a deixaram e que as circunstâncias que a rodeiam não foram suficientemente favoráveis para que ela possa refletir em tudo o que lhe aconteceu. Nesse momento, temos uma confissão de Alicia no que tange o reconhecimento de que tem vivido pelo impulso.

Os três acabam encontrando John e June e é lá que Morgan se depara com Dwight. Numa mistura de tensão e alegria, os dois se mostram abertos a esquecerem o que se passou e agir naquilo que o presente lhes proporciona. Dwight confidencia que possui algumas informações sobre os cercos de walkers que os sobreviventes tem tentado compreender e os leva a um local determinado. Lá, no entanto, Max entra em contato com Alicia e pede auxílio, dizendo que estão próximos da parada de caminhões na qual se encontraram na primeira vez.

Os sobreviventes seguem para lá e encontram a van na qual as crianças foram vistas anteriormente coberta de entranhas de walkers com Dylan no interior coberto de sangue. A cena é cortada e vemos Max e Anne prendendo os mortos pelos intestinos, onde nos é revelado que há uma possível ligação dos adolescentes com o desaparecimento de Althea e com vários dos eventos estranhos que vimos nos dois primeiros episódios.

Quando tudo parecia estar ficando bem, as coisas mudam para os personagens.

Continuo achando que Fear está arriscando alto em desenvolver várias tramas contemporaneamente. Num momento, temos o enredo de Logan, que foi trazido com ares de ser uma grande ameaça, mas até agora não apresentou perigo real algum e nem mostrou peso considerável na história. Doutro, Grace, que teve sua radioatividade completamente oculta no terceiro episódio, como se não tivesse feito alguma diferença na vida dos personagens. Ainda, temos a comunidade que liga Fear a Rick e se ela tem ou não ligação com as crianças. Fora que, Strand, Sarah, Wendell e Charlie continuam na busca pelo avião de Daniel, sem qualquer sentido, já que o avião teria sido pedido por Althea para socorrer Logan, pessoa que eles já viram não ser quem dizia ser. Então, para que fim eles perseguem o avião? Apenas para provocar Daniel?

Fora dito que Morgan serviria como uma bússola moral para Alicia, a equilibrando. E de fato, ele tem feito isso, mas temo que isso faça com que a personagem perca características que o público que a acompanha desde o primeiro ano se identifica. Então, até quando Morgan suprimirá Alicia?

Já estamos indo para uma segunda trama de vilania infantil. O quarto ano levou Madison e Nick a morte, após Charlie ter sido peça fundamental num plano dos Abutres. E me parece triste vermos que o quinto ano repetirá os mesmos passos, colocando crianças como inimigas que provavelmente se ligam a manipuladores superiores. Fora isso, já imagino que veremos Morgan e Alicia precisando discutir os limites da benevolência e o quão imoral é dar fim a vida de jovens que se não forem mortos acabarão matando todo o grupo (Alicia deixa claro nesse episódio para Luciana que não quer ver a história que matou sua mãe se repetir).

Então, muito embora o núcleo do século XIX tenha funcionado muito bem nessa terceira semana da quinta temporada juntamente a Dwight, ainda temos vários problemas sobrecarregando o duo de protagonistas Alicia e Morgan, que se arrastam em vários enredos diferentes que não parecem possuir qualquer ligação e os limita. Já passamos para a primeira metade da primeira parte da quinta temporada e até então não temos fixação de qual será a história contada nesse quinto ano. Não consigo ter bons pressentimentos com tantas tramas se desenvolvendo contemporaneamente e paralelamente. Fear e The Walking Dead já tentaram trabalhar dessa forma e falharam. Espero estar errado.

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