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Review Fear the Walking Dead S05E02 – The Hurt That Will Happen: O retorno da frustração
The Hurt That Will Happen é o segundo episódio da 5ª Temporada de Fear the Walking Dead. Confira nossa crítica ao episódio que tropeçou em sua trama.
Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do segundo episódio, S05E02 – “The Hurt That Will Happen”, da quinta temporada de Fear the Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!
Comentamos na semana passada que Fear the Walking Dead tinha tudo em mãos para se reorganizar, trazer crescimento para Morgan, reinserir Alicia na trama de destaque, fazer útil personagens como Luciana e nos surpreender com o retorno de Daniel e Dwight. O episódio de estreia foi animador e nos mostrou que a série secundária poderia fugir do profundo desgosto que nos deu nos oito últimos fragmentos de seu quarto ano. Pena que a animação durou pouco.
Vou começar justamente pela minha maior decepção: Daniel. Eu amo o personagem e acho que dentre todos os inseridos em Fear, é o que mais tem complexidade e reúne em si qualidades de profundidade rica para um bom roteiro. Além do mais, o intérprete consegue ser carismático, mesmo que seu personagem seja turrão e amargurado. Mas todos os bons atributos de Salazar não foram suficientes para me convencer em seu retorno.
Primeiramente, nada nos foi explicado sobre o retorno e mais uma vez a causalidade de roteiro imperou, fazendo do mapa do México e dos Estados Unidos um apanhado de uma única rua, onde facilmente pessoas se encontram e fixam acampamento perto umas das outras. Eu entendo que é uma obra ficcional e que devemos relevar uma ou outra condição do roteiro para aproximar personagens, mas tais artifícios vem sendo utilizados desde sempre em Fear, o que traz uma insegurança de coesão e empobrece o núcleo da trama.
Em segundo plano, a volta de Daniel não adicionou nada ao personagem e nem mesmo a história. Serviu apenas para nos mostrar que os estranhamentos entre ele e Strand persistem e que Salazar hoje vive em um refúgio isolado, repleto de carros e aviões. Aliás, o latino americano em nada parece ter mudado desde seu desfecho no terceiro ano. Entendo que esse foi o primeiro momento dele e que veremos mais história sendo construída logo em frente, mas Daniel parece estar tão alheio ao foco central dessa temporada – benevolência e valoração da vida humana – que soa como um tecla de piano acionada equivocadamente no meio de uma música harmônica, trazendo desconcerto e causando instabilidade no pianista. Sinto que chegará um momento que, se Daniel não morrer, os produtores não saberão mais o que fazer com ele (se não passarmos pelo infortúnio de um novo sumiço novamente) e ele estará lá, sendo a peça do quebra-cabeça fora do lugar, quebrando um ciclo orgânico. Ademais, Daniel não é o tipo de personagem que foi concebido para ser o coadjuvante inútil.
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Noutro centro narrativo, tivemos Alicia, Morgan, John e June se empenhando em buscar Althea. Houve poucos pontos que me encheram de esperança no primeiro episódio que persistiram invictos nessa segunda semana, e dentre eles a liderança da filha de Madison e seu retorno ao centro de protagonismo da trama que é sua desde o episódio Piloto da série. Em uma conversa entre Alicia e Morgan ficou evidente que ele dita a moral, mas a jovem Clark foi a auto declarada – e aceita pelos demais – líder do grupo. Alicia funciona em ação e em descanso. Sua presença é bastante orgânica e funciona de forma bastante fluída.
A confusão se instaurou na minha mente no arco da nova personagem, Grace. Talvez por deficiência cognitiva em química e por entender pouco de radiação, mas eu não entendi muito mais de que ela era alguém que trabalhava em uma usina que acabou se rompendo e contaminando a região onde o avião caiu no primeiro episódio. Todas as demais explicações técnicas da sobrevivente me fizeram perder o foco no que estava acontecendo no episódio em busca de entender o que estava sendo falado.
Aparentemente, Grace é uma personagem inserida com data certa de saída, já que ela confessa que foi contaminada quando retornou à usina após seu rompimento. Ou seja, a veremos criar ligações emocionais com personagens para logo depois nos despedirmos. Mas acho interessante que seu centro de trama se ligue em algo que os personagens tem buscado. Querendo ou não, Grace é alguém adepta da filosofia de Morgan, buscando dar fim ao sofrimento de vários walkers que antes eram pessoas que estiveram com ela, além de que, matá-los significa livrar a área dos riscos da radiação e salvar outros sobreviventes que eventualmente possam ter algum contato com eles.
Mas, muito embora a ligação moral, a radiação parece ser mais um elemento jogado ao vento. Em dois episódios temos um núcleo narrativo na fábrica de jeans com um aparente novo vilão; o desaparecimento de Althea para uma comunidade que parece ser a mesma que levou Rick em The Walking Dead; As crianças que apareceram e sumiram sem deixar rastros e que preocupam June e John; Daniel Salazar e seu refúgio secreto e agora o evento da radiação. Além disso, não podemos esquecer que em qualquer momento Dwight surgirá, o que pode nos apresentar mais um núcleo narrativo. O que quero dizer com isso é que são muitas cordas paralelas para se atarem e isso torna o enredo vulnerável a possíveis desfechos desconexos, que não responderão ou conseguirão desenvolver e fechar tudo o que foi criado.
Tanto The Walking Dead quanto Fear sofreram anteriormente por terem muitas tramas e subtramas que no final não conseguiram se encerrar de forma orgânica e, nesse momento de reestruturação do spinoff era o momento para os showrunners não ousarem muito, trabalharem com uma trama central e, quiçá, duas subtramas, uma para cada metade da temporada.
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Por fim o vexatório núcleo de Luciana. Em primeiro momento eu me pergunto quem em sã consciência deixaria uma pessoa machucada sozinha em um local no meio do apocalipse zumbi, sabendo que há inimigos nas redondezas e logo depois de outra amiga ter desaparecido misteriosamente? Aliás, quem que machucado e com debilidade de defesas se deixaria ficar para trás sabendo dos riscos que isso significa? Me parece que depois de roteiristas ignorarem Luciana como personagem, os próprios sobreviventes da série resolveram tratá-la com desdém.
Eu gosto sempre de relembrar que ela era uma personagem com tudo para dar certo. Quando inserida no segundo ano da série, era uma espécie de líder na comunidade da Tijuana, com personalidade forte e que se demonstrava alguém com possibilidades de crescimento. Então, ela engatou um relacionamento com Nick e de lá pra cá, sumiu na trama, perdeu suas características de liderança, teve uma brusca quebra de caráter sendo irrelevante nas decisões do grupo e sendo mera figurante. O tanto que se recebeu de reclamação no quarto ano quanto à personagem parecia ter despertado os showrunners que prometeram uma boa história no quinto ano para ela. E de fato, o primeiro episódio deu indícios que algo mudou em Luciana. Ocorre que na segunda semana, mesmo estando ali em um núcleo só seu, foi novamente irrelevante, com trama frágil e nada considerável.
Todo o núcleo narrativo alheio a Luciana que se construiu não parece ter encaixe para ela. Nem as crianças, nem Daniel, nem a busca por Althea e a comunidade misteriosa parecem ser tramas que adicionarão Luciana de forma relevante. Então, por qual motivo ter a mantido na história até agora? Quando nós finalmente veremos ela crescer? Episódios antes da sua morte para torná-la mais emocionante? Espero que não.
Enfim, acredito que fica bem demonstrado que Fear tinha muitas chances de se construir bem no quinto ano, mas o anseio por impressionar criando várias subtramas acabou por ser um tropeço já no segundo episódio. Ainda é cedo para julgarmos frustrações, tenho ciência que episódios para frente podem surpreender e construir uma linda temporada e me fazer mudar de sentimento. Entretanto, preciso ser coerente com o meu sentimento desse momento que é um princípio de desinteresse.
A ausência de Madison ainda me é dolorida, assim como a presença de Morgan me leva a um constante revirar de olhos de insatisfação. Alicia se preserva como um bom motivo para me fazer insistir na série secundária do universo zumbi de Kirkman. Mas até quando?
Espero que Daniel “engrosse o caldo” nessa temporada e me ligue ao amor que senti por Fear nos três primeiros anos e continuo ansioso pela chegada de Dwight e qual será sua influência no roteiro.
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