Entrevistas
Dave Erickson fala sobre o episódio “Pilot” e sobre a 2ª temporada de Fear the Walking Dead
ATENÇÃO: Esta matéria contém spoilers do primeiro episódio da primeira temporada de Fear the Walking Dead, S01E01 – “Pilot” (Piloto). Leia por sua conta e risco. Você foi avisado.
Bem-vindos ao novo mundo.
Fear the Walking Dead – série do AMC derivada do sucesso de público criado por Robert Kirkman – apresentou no último domingo uma nova perspectiva sobre como a humanidade começou a ruir.
Para os fãs da série original e dos quadrinhos, a série que se passa em Los Angeles ofereceu um aguardado olhar sobre os primeiros dias antes do mundo como o conhecemos no apocalipse. O piloto, escrito pelo criador da série Robert Kirkman e Dave Erickson, apresentou uma família destruída e uma nova e assustadora ameaça que muitos no primeiro episódio – com exceção do filho mais velho drogado Nick (Frank Dillane) – não conseguiram aceitar.
O jovem é o primeiro a encontrar um zumbi, mas sua família, o que inclui sua mãe orientadora Madison (Kim Dickens) e seu namorado Travis (Cliff Curtis) bem como sua irmã mais nova Alicia (Alycia Debnam-Carey), acha que ele está delirando.
Nick – hospitalizado depois de correr da vista de um zumbi se alimentando de um corpo – escapa e Travis e, eventualmente, Madison veem por si próprios que a história de carnificina não é tão fictícia. Eles veem o amigo de Nick, Calvin, virando zumbi e “revivendo” depois de ser brutalmente atropelado pelo carro deles – duas vezes.
Aqui, o showrunner Erickson fala sobre o primeiro episódio da nova série e sobre o que está por vir no restante da temporada.
Quanto que a decisão de contar a história do ponto de vista de um drogado influenciou em querer provar para a audiência que aquilo estava realmente acontecendo e que ele não estava louco?
Dave Erickson: Bastante. Nós fizemos uma versão do piloto que foi bem mais acelerada. Nós cortamos muitas histórias logo. Fiz uma passagem e mandei para Robert que gostou, mas que pensou em um personagem diferente com uma dinâmica semelhante. No conceito original da série, antes de eu entrar, o personagem de Nick era um viciado, e isso pareceu uma janela interessante onde você está vivendo em um mundo onde não necessariamente é um mundo de julgamentos e, para a maioria das pessoas, se você vê alguém se comportando dessa forma você não pensa, “Isso é um zumbi”. Você acha que ele está doente ou drogado, e que deve haver alguma explicação racional e razoável para isso. O que é interessante é o fato de ter um personagem cujo prisma é um pouco distorcido, que vê algo e mesmo quando ele confessa que viu as pessoas acham que eram ilusões das drogas. Tudo se torna uma busca de Nick para saber o que ele viu era real ou estava apenas em sua mente. Foram as drogas ou realmente aconteceu? Para Nick, Travis e Madison isso não parece possível. Para nós, e isso é constante com o desenvolver da série, o personagem que acredita que eles viram algo, eles estão aos poucos puxando uns aos outros para a realidade que aquilo realmente aconteceu.
Além de nos dar um ponto de vista para apresentar a história isso apresenta um conflito com esse personagem e sua relação com sua mãe, que é algo que vai ser bem explorado durante a temporada e além dela. Quando começarmos a segunda temporada, e as seguintes, a personalidade dele não vai mudar, e vai ser interessante ver como será o Nick longe das drogas. Como ele vai se comportar? Existem ótimas oportunidades para esse personagem.
A Madison demorou um pouco mais que Travis para acreditar em Nick – e ver por si mesma o que aconteceu com Calvin. O que Madison, Travis e Nick farão agora com essa informação?
Dave Erickson: Esse é o próximo episódio. Você chega ao final do episódio piloto e eles passam esse trauma horrível com Calvin, que já havia sido baleado e então é atropelado duas vezes e arremessado no canal seco do L.A. River e ainda assim não ‘morre’. A nossa meta no final do episódio é validar aquilo que Nick disse que viu no começo do episódio. Travis e Madison agora ouviram o que ele disse antes; Tobias teve aquela conversa com Madison. Eles viram os vídeos feitos pela polícia no acontecido da estrada. De alguma forma tudo está começando a convergir. Por isso quando eles chegam àquele final eles sabem que algo está errado. Eles assumem que deve haver um vírus por aí. Ninguém vira zumbi. Qualquer pai nessa situação ficaria em silêncio e tentaria omitir o que aconteceu – eles poderiam tentar ligar para a polícia, mas falhariam e descobriremos porque no final da segunda temporada – mas aqui eles focam em tentar unir a família e proteger os mais próximos. Então uma vez que isso tenha sido feito como eles vão explicar aos filhos o que está acontecendo e como se virar agora. Seus objetivos depois do episódio piloto serão bem específicos e pessoais. O foco dessa temporada e das futuras vai ser em histórias de famílias e o que elas fazem para se proteger.
Falando nisso, Alicia ainda não sabe o quão perigoso isso está sendo – e seu namorado Matt está sumido. Mais do que qualquer um, ela já tem um futuro planejado e não ver a hora de sair de casa. Como essa crise vai impactar a personagem e no fato dela ter que ficar com sua família?
Dave Erickson: Tudo vai mudar radicalmente. Tudo que acontece na primeira temporada vai guiar para que a família se isole de tudo. Vai haver todo um novo mundo de descobertas para eles na segunda temporada. Vejamos a relação dos irmãos Nick e Alicia, Nick já está vivendo uma vida conturbada e seu apocalipse já começou há algum tempo, e Alicia é o contrário disso tudo. Ambos reagiram de formas diferentes à morte de seu pai há seis anos, eles resolveram seguir de formas diferentes e ambos já tiveram experiência com a morte antes, o que será interessante de ser explorado mais à frente. As pessoas que parecem ter tudo sob controle, que parecem ser mais independentes, competentes e prontas pra tudo geralmente são as que mais sofrem quando o mundo começa a ruir. Ela tinha toda uma vida planejada para ela: ela começaria uma vida só dela e não abandonaria a família, mas colocaria uma distância entra ela e seu irmão com seus problemas. Alicia, ao contrário de Madison cuja prioridade é proteger e salvar seu filho, tem um forte detector de mentiras. A gente vê isso naquela cena em Nick fala com a irmã sobre ficar sóbrio e ela o corta. É uma reação visceral porque ela já ouviu e viu aquilo outras vezes e sabe que ele está mentindo. Vai ter que ser algo incrivelmente traumático e violento para colocar a cabeça de Nick no lugar. Até que vem o apocalipse e algumas coisas bem traumáticas e violentas acontecerão de verdade.
Alicia também viu o tiro final no vídeo dos policiais e sabe o que é necessário para matar um zumbi. Isso será algo útil mais à frente?
Dave Erickson: É esperar para ver. Quando ela assiste ao vídeo ela não grava sabendo que terá que usar aquilo mais adiante. Haverá uma cena em que um dos nossos personagens testemunhará algo desse tipo e será parte da educação apocalíptica: descobrir que tiros no corpo não trarão resultados.
Nós ouvimos que a gripe, toxinas transportadas pelo ar, algo na água ou vírus de algum tipo podem ser causas em potencial. Nós sabemos que a série não revelará o que causou/está causando o estopim, mas vocês conversaram sobre isso? Quais as opções que vocês levantaram?
Dave Erickson: Robert e eu trocamos boas ideias na primeira vez em que sentamos e eu apresentei uma história sobre o um “paciente zero”, ele ouviu e disse, “É… não, não é sobre isso que essa série se trata.” Algumas coisas com certeza nós nunca teremos: nunca saberemos a causa, a cura e as chances das histórias dessa série se cruzarem com a original é praticamente zero. Esse é o tipo de coisa que já foi bastante explorada em vários filmes do gênero. Não posso partilhar das minhas ideias porque um dia talvez eu possa voltar a elas – se eu estiver vivo daqui a cinco temporadas e Robert estiver num estado mental que permita se abrir ao assunto. Mas teve um artigo de jornal alguns anos atrás que me deu uma ideia e pensei que poderia ser um bom ponto de início, mas talvez eu guarde pra outra série.
É interessante que Travis esteja ensinando seus estudantes sobre sobrevivência, se baseando em Jack London. O quanto de Jack London essa temporada terá como influência – ou talvez a série como um todo?
Dave Erickson: Algumas das coisas que Travis articulou naquela cena, para mim, em relação ao tema, eu gosto de ver acontecer durante a série. O argumento de que “a natureza sempre vence”, que não é o mais original dos sentimentos ou pensamentos, é interessante de se analisar quando vemos o caso do cão-lobo e do homem na história. Minha pergunta é: Quem de nossos personagens é o cão-lobo? Quem se tornará o quê quando o apocalipse começar? Quem será a natureza e estará apto a sobreviver?
A essa altura, quem é o cão-lobo?
Dave Erickson: Se você assistir àquela cena, Travis encerra dizendo que a natureza sempre vence e voltamos para o hospital e há uma enfermeira falando com Nick com um penico, e ela fala “Eu levo meu cachorro para passear quando eu quero,” e Nick responde, “Oh, eu sou o cachorro?” É uma referência a “Harry & Sally: Feitos um para o Outro” e é também um conectivo com a cena anterior. Fundamentalmente, é uma das maiores perguntas da série: Quem está pronto para sobreviver ao novo mundo e o que eles estão dispostos a fazer? É um dos motivos pelos quais escolhemos centrar numa família problemática: O que é uma família? Ao final do piloto original de The Walking Dead vemos uma família estruturada e um grupo de sobreviventes que cria esse outro tipo de família do lado de fora de Atlanta, e então Rick os encontra. Começamos aqui com uma família bem bagunçada e haverão muitas perguntas à medida em que seguimos em frente como quem temos que salvar? São as pessoas que temos vínculos biológicos? São as pessoas com quem você cria laços durante o apocalipse e dividem com você os perigos e traumas? Onde estão suas alianças e lealdade? Está tudo ali dentro.
Você disse antes que a série se passaria em LA por um motivo: a reinvenção do tema. Como nós veremos esses quatro personagens principais se envolverem com esse novo mundo?
Dave Erickson: Nós terminamos o episódio piloto e Madison e Travis não têm as ferramentas para entender o que acabaram de testemunhar. Nick é esperto quase da mesma forma que Tobias: Nick se provou verdadeiro no final do episódio e descobriu que não foram as drogas e que ele não está louco. A loucura é outro tema que exploraremos também na série. O que vai ser um desafio para Nick é fazer com que as pessoas acompanhem seus pensamentos. Ele estava vivendo seu próprio apocalipse e agora o verdadeiro apocalipse chegou. Inicialmente a proteção dos seus é o que importa. Alicia não está com eles quando o episódio termina. Ela estava procurando por Matt, que não foi ao encontro marcado. Eles tentarão encontrá-la e trazê-la de volta. Em relação a Travis, ele vai querer encontrar seu filho, Chris (Lorenzo James Henrie), e sua ex-esposa, Liza (Elizabeth Rodriguez). Eles sabem que está acontecendo algo errado, mas eles não imaginam as proporções que isso vai tomar. Para Travis deve haver uma explicação e isso se torna um processo de encontrar uma salvação para as coisas ficarem bem. Vai ser um grande desafio, sobretudo para Travis. Para Madison, a partir do segundo episódio, ela precisará proteger Alicia e Nick, e isso vai se manifestar de maneiras diferentes porque eles têm problemas específicos e diferentes com os quais estão lidando.
Para finalizar, como os zumbis se chamarão nessa temporada? A série primária os chama de “walkers” e nunca disseram “zumbi”.
Dave Erickson: Por hora, partindo da ideia que eles acham ser uma coisa viral e algo que pode ser transmitido, eles os chamarão de “os infectados”, o que lembra O Extermínio. Não vamos chegar a um momento da série em que vão começar a sugerir nomes. Seja mordedores, andarilhos ou zumbis, nossos personagens nessa temporada ainda acham que essas pessoas são humanos e estão doentes faz um bom tempo. “Infectados” fez sentido na nossa história, e a medida em que a série for evoluindo nós vamos pensando em novos nomes.
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Fonte: Hollywood Reporter
Tradução: @OAvilaSouza / Staff Fear the Walking Dead Brasil