Análises
O destino de Madison: Fear the Walking Dead acertou em matar sua protagonista?
Atenção! Se você não está com as temporadas de Fear the Walking Dead em dia, saiba que o artigo a seguir contém potenciais SPOILERS sobre o último ano da série. Continuar a leitura é de total responsabilidade sua!
Faz algum tempo desde que a quarta temporada de Fear the Walking Dead se encerrou. O quarto ano foi um marco de reviravoltas e mudanças substanciais para a trama que, para muitos críticos, encerrou como a melhor temporada do spinoff. Entretanto, há de se chamar a atenção do público sobre vários aspectos que criaram uma grande dissonância entre o show de TV e sua audiência (e dessa vez, não os críticos).
Com toda a certeza, a maior das mudanças veio no enredo dos oito primeiros episódios, quando em meio a uma linha temporal desordenada descobrimos que Madison Clark, a protagonista dos três anos anteriores, estava morta. A partir daí, vimos um desenrolar de história considerado por muitos como confuso e totalmente oposto ao que estávamos acostumados a ver. Fear the Walking Dead foi caminhando em poucos episódios para uma cópia barata da série mãe, com mesmas temáticas e formas de exploração.
Para quem assistia a série justamente por sua jogada diferenciada, onde o tema central era o relacionamento familiar e o quão longe pais de família iriam em um apocalipse para manter sua prole bem, a série secundária perdeu totalmente sua razão, já que não temos mais nenhuma das famílias originais em tela (entre os Clark, Manawa e Salazar, apenas Alicia sobreviveu).
A tentativa de reboot da série inicialmente pareceu inovadora, entretanto, principalmente nos oito episódios finais, se tornou em algo totalmente dissonante com o que era esperado. Personagens novos ganharam destaque, Alicia, Strand e Luciana que eram os últimos sobreviventes e representantes dos três primeiros anos acabaram sendo escanteados e minimizados a meros coadjuvantes, tendo-se então um exorbitante enfoque dado as narrativas de Morgan, Althea, John e June. Alguns desses são realmente interessantes em sua essência, mas não poderiam ser suficientes para que os produtores achassem válido descartar os três anos anteriores os apagando como se nunca tivessem transcorrido. Fazer com que a audiência aceite ter perdido tempo com as primeiras temporadas é totalmente desrespeitoso e desanimador.
Ao passo que Althea, John e June chegaram na história como novos personagens jamais vistos e que, contaram seu passado a medida em que iam se desenvolvendo, tínhamos a construção de Morgan como o novo protagonista e líder do grupo. Entretanto é válido fazer constar a ideia de que Morgan nunca foi um personagem bem aceito pela audiência de The Walking Dead e, quando o crossover fora anunciado, os fãs não esperavam que ele seria o eleito pelos produtores para protagonizar tal ato. Mas, a ida para Fear poderia ser uma nova chance de Morgan se estabelecer entre os personagens mais amados do universo de Kirkman, já que seria uma carta em branco para que ele construísse uma nova história.
Entretanto, não foi o que aconteceu. Morgan contou a mesma história confusa e inconstante que vinha apresentando na série mãe, trazendo para Fear o mesmo enredo que o fez ser um incômodo para os fãs de The Walking Dead. Sua narrativa não foi nada inovadora e tampouco adicionou um prosseguimento diferenciado na trama. Fear, que outrora carregava uma síntese afastada da série que a derivou, agora se tornou uma cópia ligeiramente inferior àquela.
Exemplo disso foi a vexatória trajetória de Martha como antagonista, num mar de incoerência e ausência de simetria, a personagem foi propulsora de Morgan e o levou exatamente ao ponto anteriormente suscitado: aos limites da loucura, que já eram exploradas quando ainda ao lado de Rick. A vilã, se não é faltar com respeito aos demais antagonistas chamá-la assim, construiu uma trilha totalmente desnecessária, confusa e incoerente com a história contada nos primeiros oito episódios. A grandeza com que as linhas temporais cruzadas, junto as diversas incógnitas de quem era mocinho e vilão, culminando no fim de Madison no inicio da temporada é totalmente desproporcional a precária desenvoltura dos oito episódios finais.
Além do mais, a morte de Madison se tornou irrelevante. Além de ter um desfecho em aberto, o que não deveria ser aceitável e respeitoso para quem era o carro chefe da série, a personagem se sacrificou por nada. Ela poderia ter corrido no sentido oposto e se salvado, mas escolheu morrer porque achou coerente e acreditou que aquela era a única forma de manter seus filhos vivos. Entretanto, como a linha temporal havia nos revelado, Nick morreu logo em seguida.
A chegada de Morgan e a morte de Madison em um combo só poderia ser útil para uma coisa: a união definitiva de ambas as séries. Madison seria a única que impediria Morgan de tomar o controle do grupo e levá-los para o outro lado do país com uma proposta tentadora. Ela bateria o pé, negaria, duvidaria e por fim, se engalfinharia com ele e afastaria qualquer possibilidade de irem para Alexandria. Por sua vez, Morgan é o elo que liga todos à série mãe. Então, quando tudo parecia fazer um sentido, e a morte de Madison se explicava para que Morgan levasse todos os demais para The Walking Dead, extinguindo em definitivo Fear, Jones muda de ideia e resolve permanecer junto ao grupo no local onde irão dar inicio a uma nova comunidade.
O momento era certeiro, Fear e The Walking Dead tinham alinhado sua temporaneidade, se a história contasse uma ida dos personagens do Texas até a Virginia, iria colidir com o salto de nove meses dado no inicio da nona temporada da derivadora. Entretanto, a permanência de Morgan no Texas e a segunda projeção temporal de cerca de seis anos na série mãe acabaram extinguindo qualquer oportunidade de ambas se unirem. Ou seja, o único motivo real para que Madison estivesse morta foi totalmente descartado.
Agora temos Alicia, Strand e Luciana, que se tornaram meros coadjuvantes, Althea que tem muito da sua história como uma incógnita para o público, June e John que talvez sejam os melhores personagens, Charlie que é a criança do grupo e provavelmente será utilizada apenas como atratora de problemas e membro em risco, Sarah e Wendell que até então não nos mostraram muita coisa e o frustrante protagonismo de Morgan, que até agora não temos nenhuma certeza se se firmará em uma personalidade agradável para a audiência. Além disso, um plano de fundo totalmente questionável, já que a comunidade que eles pensam em levantar terá como núcleo central a ajuda ao próximo, dando continuidade aos projetos do caminhoneiro Urso Polar que deixava caixas de mantimento pelo caminho para auxiliar na sobrevivência dos andarilhos.
Alicia era uma das grandes apostas como a líder após a morte de Madison, por mais que fosse uma jovem saindo da adolescência, entretanto, sucumbiu aos devaneios de Jones e se rendeu a sua frustrada liderança. Quem ela será agora? Uma jovem cooperadora dos bons planos de Morgan para praticar atos benevolentes e que não mata ninguém pois cada vida é preciosa? E toda aquela ferocidade e desenvoltura que eram características centrais de Alicia e que a faziam uma das personagens preferidas do público? Serão apagadas simplesmente porque os produtores querem fazer emplacar um personagem que a muito tempo não tem encaixe no mundo de The Walking Dead?
A morte de Madison, por mais que confirmada diversas vezes por produtores, bem como pela não participação de Kim nos eventos que promoveram o final da quarta temporada e seu comprometimento com outros trabalhos, ainda soa estranha. Ela era a protagonista, carregou a história durante três anos e sua personalidade era totalmente a alma da série. Um personagem com tais características – respeitando-se seu protagonismo – jamais pode ter um final em aberto como foi a morte de Madison. Por mais que a cena ousou ser emocionante e heroica, inibir o momento exato em que Madison morreu e deixar a entender que ela tenha sido devorada por walkers e se tornado uma morta viva pairando pelo deserto do Texas é totalmente incongruente e desrespeitoso, tanto com a personagem como com o trabalho da atriz que lhe deu rosto.
Dificilmente teremos uma reviravolta na história (por mais que tenha sido confirmado o retorno de Troy e Daniel, que também tinham seus desfechos em aberto), mas Madison não deveria estar morta e, tampouco, a história de Fear merecia ser descartada como foi. Já opinei sobre tais questões diversas vezes e mantenho minha posição: se a ideia era exatamente essa, a de encerrar o ciclo de Fear e tocar uma nova história, que tivessem findado por completo a série e dado abertura a uma nova, com novo nome e que acompanhasse Morgan e futuramente, fazê-lo se encontrar com os sobreviventes da trama final de Fear the Walking Dead.
O estranho de tudo isso é que Fear, para uma série classificada como spinoff, não ia mal de audiência. Sustentava a base de três milhões (bons números, se comparados aos cinco milhões da série mãe). A mudança repentina de enredo só seria plausível se explicada pelo ponto anteriormente suscitado de junção de ambas as histórias. Mas, como também já dito, tal possibilidade foi totalmente exaurida. E, a mudança substancial acabou causando uma leve queda nos números de Fear, dando um efeito contrário ao desejado pelo canal e produtores da série. Isso provavelmente se deve ao fato de que a audiência que acompanhava Fear não necessariamente queria ver uma extensão de The Walking Dead, mas sim, o uso do mesmo plano de fundo (o apocalipse zumbi) para uma nova história que vertesse para pontos não explorados pela série mãe.
Assim, concluo que Fear errou grandemente em dar cabo a sua protagonista em tais circunstancias e, mais ainda, falhou no que diz respeito ao crossover das séries. Com um personagem desinteressante, jogando fora qualquer possibilidade de lhe acrescer uma nova trajetória distante daquela que o fez ser desagradável para a audiência em The Walking Dead e com a minoração de personagens que eram amados pelo público do spinoff. Fear the Walking Dead parece ter sido enterrada e ter seu nome usurpada para uma série decadente sobre as múltiplas personalidades de Morgan sendo seguido por um grupo de despreparados mentalmente.
E você? Concorda que a morte de Madison perdeu o sentido após Morgan desistir do caminho para Alexandria? Acredita que a história perdeu seu rumo e deveria ter sido encerrada? Deixe nos comentários sua opinião.
A quinta temporada de Fear the Walking Dead iniciou suas gravações no inicio do mês passado e deve estrear em Junho de 2019.
Fiquem ligados no Fear the Walking Dead Brasil e em nossas redes sociais @FearWalkingDead (twitter) e Fear the Walking Dead Brasil (facebook) para ficar por dentro de tudo que rola no universo de FearTWD.